sexta-feira, 8 de março de 2019

Pesquisadora conta a rotina de quem vive sob o medo do rompimento de barragens de minério

Barragem de rejeitos da Mina do Sapo, do projeto Minas-Rio, da Anglo American em Conceição do Mato Dentro — Foto: Arquivo PessoalAna Alvarenga — Foto: Arquivo PessoalExiste uma geração, que nasceu há pouco menos de dez anos na região mineira de Conceição de Mato Dentro, que só conhece água quando ela chega de caminhão pipa cedido pela empresa britânica Anglo American, que tem uma planta de mineração no local. Seus pais e avós, no entanto, conservam a lembrança de um tempo em que a água jorrava, vinda da Serra do Espinhaço, e permitia que eles tivessem plantações de arroz e feijão, não só para consumo próprio como para vender em feiras locais e, assim, garantir as outras necessidades básicas da família.
Pouco tempo depois de, em 2008, a empresa começar a operar ali, os agricultores perceberam que a água escasseava e desconfiaram que ela estava sendo usada para limpar o minério. A certeza veio quando o primeiro caminhão pipa chegou: era a Anglo American assumindo sua responsabilidade na escassez de água e tentando diminuir o problema.
São cerca de 400 as famílias atingidas pelo projeto Minas Rio, o segundo maior projeto de mineração do país depois de Carajás, da Vale. E hoje os pequenos agricultores locais têm que comprar – e pagar caro – o arroz e o feijão que consomem. Plantam milho, mas a roça é pequena.
A pesquisadora brasileira Ana Alvarenga, da Universidade Humboldt de Berlim, está no Brasil fazendo um trabalho sobre os impactos da mineração na produção de alimentos do modo camponês (agroecologia e agricultura familiar) e escolheu a região de Conceição do Mato Dentro para fazer o trabalho de campo, ou seja, entrevistas com os diretamente atingidos. Tinha acabado de pegar uma carona com o pessoal da Cáritas (entidade que atua na defesa dos direitos humanos), até Belo Horizonte, quando as notícias sobre o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho começaram a correr. Foi o tempo de chegar ao Rio, onde está hospedada, e voltar a Minas para conhecer, in loco, o resultado da tragédia.
Poucos dias depois de voltar de Brumadinho, Ana Alvarenga aceitou meu convite para uma conversa. As impressões da pesquisadora ajudam a alicerçar reflexões sobre nosso modelo de desenvolvimento, para ela “muito moldado no extrativismo”. E clareia também a situação em que se encontram agora os moradores de Conceição do Mato Dentro, que moram abaixo de uma barragem capaz de armazenar 370 milhões de metros cúbicos de rejeitos que e correm o mesmo perigo que os de Mariana e os de Brumadinho: “Depois de Mariana e de Brumadinho, eles agora vivem sob o signo do medo. E não é paranoia, sabemos bem o que acontece”, disse ela. [fonte g1]

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