Janeiro de 2020 não começou da melhor forma para quem vive no município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A cidade - cuja população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, era de 361.400 habitantes - está em ascensão no quesito número de homicídios, conforme demonstram os relatórios parciais da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Até o último registro na plataforma do órgão, datado do dia 25 de janeiro, foram contabilizados 25 homicídios, uma média de um assassinato por dia. Até o dia 28, contudo, o Sistema Verdes Mares já contabilizou mais três casos de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) provocados na cidade vizinha à Capital, totalizando, pelo menos, 28 homicídios em 28 dias.
Desse total, há o registro de dois latrocínios, como o caso da idosa Maria Nisia Teixeira Freitas, de 82 anos, assassinada a pauladas pelo amante da sua cuidadora, conforme a Polícia Civil. Além disso, a maioria dos casos resultou do uso de arma de fogo, dois por arma branca e quatro por "outros meios", como o de Maria Nísia. Das 28 vítimas, quatro eram mulheres.
Sem oscilação
Embora o número de homicídios do município não seja o mais alto do Estado do Ceará, uma vez que Fortaleza concentra a maior quantidade e já registrou, neste ano, 55 casos - quase o dobro de Caucaia -, o que chama atenção é como as estatísticas se mantêm constantes na cidade.
A barreira dos dois dígitos de CVLIs já foi quebrada há muito tempo, e janeiro deste ano já é o mês com o maior número de registros desde dezembro de 2018, quando foram registrados 39 assassinatos em Caucaia. Além disso, Fortaleza e Maracanaú (primeiro e terceiro lugares, respectivamente no quesito) vêm apresentando reduções expressivas, como mostram os números do gráfico.
Em nota, a Prefeitura de Caucaia informou que "tem apoiado todas as ações do Governo do Estado para reduzir os índices de criminalidade no município" e endossou que "a política de policiamento e investigação de crimes é de competência exclusiva da Secretaria Estadual da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS)".
Contudo, o poder municipal ressaltou que tem disponibilizado imagens de videomonitoramento quando é necessário e implementado "palestras em escolas, construção de areninhas em áreas de elevado índice de vulnerabilidade social, melhorias em mais de 60% dos pontos de iluminação pública de todo o Município e atividades nos 11 Centros de Referência da Assistência Social (Cras)".
Segurança
De acordo com o coordenador geral de Operações da Polícia Militar do Ceará, coronel George Benício, o Município passa, neste mês de janeiro, por um período distinto dos demais. "Em Caucaia, especificamente, este início de ano está sendo atípico. Está havendo um aumento e estamos acompanhando isso até mesmo devido à quantidade de operações, de ações que a Polícia Militar está desenvolvendo na área".
Segundo o coronel, entre 2018 e 2019, houve redução de 47% dos CVLIs na cidade. Para ele, contudo, há problemas na divisão territorial do Município, já que, em termos de extensão, Caucaia é quase quatro vezes maior que Fortaleza. "Por ter uma área muito extensa, propicia a facilidade de o crime acontecer em áreas não urbanas, tanto que estamos realizando desde o início do ano várias operações", ressalta o coordenador.
Além disso, o militar também considerou que "no ano passado, foram presas muitas pessoas envolvidas com diversas facções, e isso pode ter um lado ou outro tentando crescer", explica com relação à disputa de territórios dos grupos criminosos. E completa: "esse crescimento (dos grupos criminosos), muitas vezes, eles desenvolvem isso na tentativa de tomar o poder, e isso acontece através dos homicídios".
Atualmente, conforme o coronel, a cidade está dividida em 20 grandes áreas, cujos territórios variam de acordo com áreas urbanas e rurais. Nestes "quadrantes", há a atuação de 190 agentes, 20 viaturas da Polícia Militar trabalhando 24 horas por dia, além de composições de equipes especiais. "Nosso propósito é baixar esses índices e garantir a segurança de todos. O ir e vir deve ser mantido, e o Comando da Polícia Militar está trabalhando com esse objetivo".
Análise
Para a socióloga do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará, Suiany de Moraes, o número de homicídios na cidade tem aspecto contínuo por uma série de questões históricas que ainda não foram resolvidas. "É um local em que a taxa de homicídios sempre foi alta. A maior coisa a se considerar, é que Caucaia é muito pobre, com grandes distâncias sociais", explica, ao ressaltar que não há proteção em todos os territórios e que há ainda uma marca de gestões municipais com grandes dificuldades e envolvidas em escândalos de corrupção.
De acordo com a socióloga, quando o poder público não chega em locais mais distantes, o crime organizado consegue se capilarizar. "É preciso ter um estado de seguridade para tentar, minimamente, garantir proteção e diminuir índices de violência", diz.
"A região sempre teve um crime organizado", pontua Suiany de Moraes com relação às teses de que há uma migração de grupos da Capital para Caucaia. Segundo ela, "não teve migração; na verdade, o que chama atenção é o fato de que outros municípios estão diminuindo o índice de homicídios e Caucaia não conseguiu, continua do mesmo jeito", finaliza.
Com informações do Diário do Nordeste.
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