Estão de fora dessa conta, por exemplo, as quebradeiras de coco babaçu, os apanhadores de flores sempre vivas, as raizeiras e os andirobeiros.Segundo o coordenador da câmara temática do MPF dedicada ao tema, o subprocurador-geral da República Antonio Bigonha, ainda persiste certa resistência de órgãos de preservação ambiental com relação a esses povos. Para eles, as áreas de conservação podem ser prejudicadas pela presença humana. Para Bigonha, a lógica é exatamente oposta. "É um elemento poderoso de conservação e desenvolvimento sustentável", defende. Segundo ele, o principal desafio dos procuradores desta câmara é sensibilizar os órgãos ambientais nesA antropóloga Katia Favilla explica que a criação de algumas áreas de preservação mais restritivas, sem autorização para habitação humana, como as Unidades de Conservação de Proteção Integral, por vezes ocorrem em territórios de ocupação tradicional. A pressão para a expulsão dos habitantes daquela região seria um contrassenso.
"Muitas vezes a unidade está conservada justamente porque tem os povos morando lá”. Katia é secretária-executiva da Rede Cerrado, composta por 55 entidades da sociedade civil que lutam pela conservação do Cerrado e de seus povos.
Para a ecóloga Isabel Figueiredo, os povos tradicionais podem não só estar em harmonia com a natureza como podem enriquecê-la.
“Hoje, o que o Cerrado é, o que a Amazônia é, o que a Caatinga é, é também fruto da interação do ser humano com o ambiente”, afirma.
"Isso não quer dizer que essas famílias não vão cortar uma árvore para fazer um curral, mas elas vivem numa escala que propicia que na mesma paisagem que se tenha áreas de cultivo e áreas nativas em equilíbrio".te sentido.Os especialistas na área reforçam ainda a importância econômica destes povos, já que eles têm conhecimentos tradicionais em alimentos, cosméticos e fármacos que são utilizados por várias indústrias.
O antropólogo Marco Paulo, também da câmara temática do MPF, usa como exemplo o açaí, chamado de “ouro roxo” no Norte do país. Maior produtor de açaí do Brasil, o Pará movimentou US$ 17 milhões nos últimos dois anos com o fruto.
“Imagina a quantidade de produtos da biodiversidade que a Amazônia pode oferecer se explorados racionalmente, com agregação de valores, em cadeias produtivas sustentáveis”.
Ao mesmo tempo, preocupa perder esse conhecimento tradicional antes mesmo de conhecê-lo, com o sumiço de alguns povos. “Diversos povos indígenas com seu conhecimento milenar sobre determinadas regiões já desapareceram e levaram consigo aquele conhecimento e perdemos o acesso a aquelas bibliotecas de conhecimentos étnicos”, afirma o antropólogo.
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