quarta-feira, 21 de agosto de 2019

'Mais de 90% das crises são solucionadas por negociadores', diz comandante do Bope que autorizou disparos na Ponte Rio-Niterói

Segundo o tenente-coronel Maurílio Nunes, o sequestro do ônibus 174, em 2000, foi a última vez que um refém morreu durante uma operação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).Após mais de 3h de cerco, um sequestrador que manteve passageiros de um ônibus como reféns na Ponte Rio-Niterói foi morto por um atirador de elite do Bope na manhã nesta terça-feira (20) — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

O comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, tenente-coronel Maurílio Nunes, disse nesta terça-feira (20) que a negociação é a principal estratégia utilizada pela unidade para encerrar ações criminosas com reféns. Segundo o oficial, mais de 90% das crises como o sequestro do ônibus na Ponte Rio-Niterói são solucionadas pelos negociadores.
Na grande maioria dos casos, então, o Bope não precisa utilizar atiradores de elite, por exemplo, como, segundo a polícia, foi necessário para neutralizar Willian Augusto da Silva, de 20 anos, sequestrador do ônibus na Ponte Rio-Niterói. Ele terminou baleado e morto, com seis perfurações, segundo uma perícia inicial.
A atuação do Bope nesse caso permitiu que 39 reféns fossem liberados sem ferimentos, após mais de três horas de sequestro.
"O Bope desde os anos 2000 não perde um refém. E a negociação é nossa principal alternativa tática. Mais de 90% das crises que nós tivemos foram resolvida através do negociador. A gerência de crise partiu para a decisão de passar da negociação real para uma negociação tática, nesse caso", disse o tenente-coronel.
Conforme a explicação de Nunes, durante a negociação tática os atiradores de elite da corporação passam a ter o sinal verde para efetuar um disparo certeiro sem colocar a vida de outras pessoas em risco.

"Ele amedrontava as vítimas em alguns momentos, falando que ele ia matar 10 pessoas se não entregasse o dinheiro para ele. Depois falava: 'vou me jogar com um de vocês da ponte'. Então o risco de uma vida sequer foi a motivação para passar naquele momento para uma alternativa tática de neutralização", explicou Nunes.O sequestrador do ônibus da viação Galo Branco é visto com uma arma na cabeça de um refém durante o sequestro na ponte Rio-Niteroi — Foto: Ricardo Cassiano/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Entre os motivos que fizeram o comando da operação mudar de estratégia foi, segundo o tenente-coronel, a dificuldade de estabelecer uma ligação confiável com o sequestrador. Para Nunes, o criminoso não tinha um objetivo claro para o sequestro.
"Ele não tinha uma linha definida. Uma hora ele pediu dinheiro. Depois disse que ia se jogar e depois disse que ia queimar. Ele não tinha um padrão para que a gente pudesse estabelecer um vínculo para a negociação. Então, para ter mais segurança para as vítimas que estavam ali muito nervosas, tomou-se a decisão de dar o sinal verde para os atiradores, para na melhor oportunidade efetuar o disparo e salvar aquelas vidas", disse Nunes.

Psicólogos participam da ação

Um dos personagens de destaque durante qualquer negociação com reféns é o psicólogo que atua para traçar o perfil psicológico dos sequestradores. Segundo o tenente-coronel Nunes, as informações indicavam que Willian poderia buscar o suicídio.
"Ela (a psicóloga) traçou um perfil do tomador de reféns. Esse perfil, infelizmente, psicótico. Ele já vinha em uma crise já há um mês. Ele tomava remédios, estava mais recluso, estava mais próximo dos familiares e poderia tomar uma atitude suicida", contou Nunes.
Os psicólogos da equipe de intervenção tática do Bope, durante a operação de terça-feira, entrevistaram os reféns liberados e os familiares do sequestrador. O objetivo era entender as motivações para o crime.

Negociação difícil

A dinâmica de negociações para salvar as 39 vítimas durante o sequestro na Ponte Rio-Niterói não era fácil para os oficiais do Bope, segundo o tenente-coronel Nunes. Ele contou que Willian não queria firmar uma relação de confiança com os negociadores.
"A gente estava estabelecendo o contato e estava difícil de trazer essa relação de confiança. A partir do momento que ele parou a negociação, ele estabeleceu uma distância maior dos negociadores. Ele saiu uma vez do ônibus com a arma e apontou para um dos reféns e depois voltou para o ônibus. O cenário que nós tínhamos, com muita gasolina dentro do ônibus, um cenário nunca visto no Brasil, colocava em risco 39 vidas", disse tenente-coronel.
Às 9h04 de terça-feira, após mais de três horas de sequestro (veja o momento em que o criminoso é atingido no vídeo acima), Willian desceu do coletivo e jogou um casaco para os policiais.
Pelo menos três snipers (atiradores de elite) estavam em posições estratégicas em volta do ônibus. Um deles estava deitado sobre um carro dos bombeiros e chegou a ser coberto por um pano vermelho.
Quando o sequestrador iria subir a escada para reembarcar no ônibus, foi baleado. Seis tiros foram disparados. William Augusto caiu perto das escadas do ônibus.
Todos os 39 reféns foram liberados sem ferimentos.

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